“É Preciso Espaço para Falhar” – Exposição MACC Baião
O Mosteiro de Ancede – Centro Cultural (MACC Baião) acolhe, entre 29 de novembro de 2025 e 1 de março de 2026, a exposição “É Preciso Espaço para Falhar”, a primeira mostra individual de artes plásticas de Márcia. Conhecida do grande público pelas suas canções e pela escrita sensível, a artista regressa agora às origens, à pintura e ao desenho, num projeto que revela pela primeira vez uma faceta até aqui guardada em silêncio.
Entre a música e as artes visuais, Márcia construiu um percurso singular, onde palavra, som e imagem se cruzam. Cantautora reconhecida por canções como A Insatisfação, Bom Destino ou A Pele que Há em Mim, formou-se, antes da música, em Pintura na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa. Embora a sua carreira musical a tenha tornado um nome familiar do público, nunca abandonou o desenho, a pintura e a ilustração, práticas que já se revelaram, por exemplo, no livro As Estradas São para Ir. Agora, dá o passo que faltava: a estreia numa exposição individual de artes plásticas.
Intitulada “É Preciso Espaço para Falhar”, a mostra reúne obras de desenho, pintura, fotografia e instalação produzidas ao longo de vinte anos. “O título parte de um desenho onde, um dia, sem grande preocupação, escrevi essa frase como uma conclusão do processo criativo. Tenho-me debruçado muito sobre a existência do erro e sobre a teimosia que é tentarmos evitá-lo a todo o custo ou escondê-lo”, explica Márcia.
A reflexão sobre o erro atravessa toda a exposição, assumindo-se como matéria-prima essencial do seu percurso. “As pessoas vão sempre ter falhas e é nas falhas, muitas vezes, que acabaremos por encontrar aquilo que nos resta de humanidade e, no entanto, apercebi-me que sempre lidei de forma muito dura com os meus próprios erros”, confessa.
Para si, o erro deixou de ser obstáculo e passou a ser caminho. “Errar é também descobrir, desbravar, caminhar livremente. Todo esse processo é libertador e temos de aprender a aceitar que a sua importância é muito maior para a nossa verdade ou realização pessoal, liberdade individual ou felicidade do que um resultado perfeito ou eficaz.”
Ao longo dos anos, Márcia foi arranjando ateliers para pintar e desenhar em liberdade, longe do olhar dos outros. “Apercebi-me que desenhava sobretudo os meus ateliers pois são os espaços seguros e acabam por ser quase sagrados como se, protegidos do olhar do mundo, tivéssemos a capacidade de sermos mais próximos de nós próprios, confessionais e essenciais, como acontece num diálogo com Deus.”
O resultado é um conjunto de obras que, embora formalmente diversas, se unem num fio narrativo em torno da procura. “Uma vez que é a minha primeira exposição individual, preparei um percurso que terá de ser explicativo para poder exibir trabalhos que podem parecer díspares, mas cujo fio condutor passará precisamente por entender a necessidade de um espaço em que me permiti experimentar várias coisas, falhar, desistir, insistir, corrigir. É sobre a procura da génese da pintura, da minha vontade de pintar e da insistência em permanecer tentando.”
A escolha do Mosteiro de Ancede para acolher a estreia não é indiferente. Para Márcia, o espaço acrescenta novas camadas de significado ao seu trabalho. “O Mosteiro de Ancede é um espaço emblemático, numa terra que tem muito para oferecer, sobretudo de beleza natural e de pessoas. Tem características únicas, é muito místico, ao mesmo tempo modernizado e com uma capacidade excelente para expor, como se comprova pela agenda cultural que tem tido. É muito significativo que seja num mosteiro que irei permitir-me mostrar, pela primeira vez, o meu percurso artístico completo.”
A música, inevitavelmente, cruza-se com esta vertente plástica. Poeta, escritora, cantora e compositora, com canções também assinadas para Sérgio Godinho, Ana Moura e António Zambujo, Márcia considera que todas as linguagens partem da mesma necessidade interior. “Aquilo que faço é, antes de qualquer coisa, uma necessidade vital para viver com significado. A expressão daquilo que sinto, que vivo, ou que sou, é traduzida em todas as línguas que sei falar: a voz, a palavra, a música, a cor, o desenho. Às vezes conto estórias através de imagens em vídeo, outras vezes escrevo canções. Aquilo que há de comum é que, em vários idiomas, falamos sempre do mesmo universo interno.”
“É Preciso Espaço para Falhar” é, assim, mais do que uma exposição: é um gesto de partilha e de liberdade criativa. Durante três meses, o público poderá descobrir a dimensão plástica de uma artista completa, que se reinventa em cada expressão e que agora abre a porta de um universo até hoje guardado em silêncio.
A exposição inaugura a 29 de novembro, dia em que Márcia será também a protagonista do evento “Poesia a Copo”, que decorre no mesmo espaço e celebra o encontro entre poesia, música e vinho (participação gratuita, mediante reserva obrigatória na Bilheteira Online: https://cmbaiao.admira.b6.pt/pos/event/list).
Poucos dias antes, a 19 de novembro, a artista apresenta-se no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, com o concerto de estreia do seu mais recente álbum, “Ana Márcia”, um espetáculo com o apoio da Antena 1 e com convidados como Sérgio Godinho, Jorge Palma e Catarina Salinas.
Com esta nova mostra, o MACC Baião continua a afirmar-se como um espaço de criação e de encontro de linguagens artísticas, acolhendo artistas que dialogam entre o local e o nacional, e entre a tradição e a contemporaneidade.
Resumo
Exposição: “É Preciso Espaço para Falhar”
Artista: Márcia
Local: Mosteiro de Ancede – Centro Cultural
Datas: 29 de novembro de 2025 a 1 de março de 2026
Horário: Terça-feira a domingo, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00
Entrada: 2.50 euros
Sugere-se reserva antecipada aqui: https://cmbaiao.admira.b6.pt/pos/event/list
Conteúdo atualizado em 17 de Novembro de 2025 às 16:46